Quedas no Ibovespa refletem economia doméstica e pressão global, dizem especialistas

O Ibovespa engatou a 10ª sessão consecutiva de queda nesta segunda-feira (14) e encerrou o pregão em baixa de 1,06% aos 116.809 pontos.

A última vez que o pregão emendou uma sequência desta magnitude foi entre o final de janeiro e o começo de fevereiro de 1984, quando fechou em baixa por 11 pregões, segundo dados da Refinitiv.

As perdas contrariam expectativas de valorização das ações após o anúncio do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) de reduzir em 0,5 ponto percentual a taxa de juros, que agora está em 13,25%.

Marco Caruso, economista-chefe do PicPay, explica que os juros afetam apenas uma parte dos setores que compõem o Ibovespa, especialmente aqueles que são mais “sensíveis”, como o de consumo e consumo discricionário, além de imobiliário e saneamento.

“Mas não são esses setores que estão caindo e puxando Ibovespa para cair esses 4% que a gente tem no acumulado de queda no mês de agosto”, afirma.

Caruso avalia que o “carro-chefe” das perdas do índice está atrelado a algumas questões — e a principal delas está relacionada ao setor de materiais, onde está a Vale (VALE3), papel com maior peso no mercado.

“Obviamente é importante que tenhamos a queda nos juros para dar algum tipo de ‘sustentação’ para o Ibovespa, mas temos que combinar com setores que são menos dependentes das condições macro domésticas”, explica.

“Parte importante dessa queda do Ibovespa tem bastante a ver, na verdade, com um certo recrudescimento do ambiente econômico lá de fora”.

Para André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, as recentes baixas do Ibovespa aconteceram porque o mercado já estava precificando um corte de juros mais agressivo por parte do Copom nas próximas reuniões.

“Após a divulgação do corte, o mercado entrou num modo de ‘realização de lucros’ e chegou a pressionar a curva de juros, precificando um possível corte de 0,75 ponto percentual em alguma reunião deste ano”, avalia.

“Essa expectativa acabou sendo frustrada pelo BC e pela ata do Copom, que deve manter os cortes de 0,50 ponto já contratados pelo mercado até o fim do ano. Isso fez muitos investidores venderem suas posições”, conclui.

O consultor de Mercado da Raz Consulting, Rafael Ribeiro, associa o cenário de instabilidade na bolsa a uma série de questões que envolvem o cenário doméstico e internacional, mas frisa que não existe um motivo principal para que a queda aconteça.

“A última sequência [de queda] como essa, foi muito mais áspera do que essa que a gente está passando agora […] É uma queda, é importante, mas não dá pra gente confundir isso com desmonte da bolsa, porque não é exatamente isso que tá acontecendo”, afirma.

Para ele, uma das principais razões para os 10 dias consecutivos de baixa é a alta taxa de juros nos Estados Unidos, que atrai investidores para o mercado americano.

“A própria taxa de juros nos Estados Unidos, que está mais alta, faz com que o dólar fique mais valioso nesse contexto, que você tenha um investimento maior na economia norte-americana”, avalia.

Além disso, o especialista também destaca a inflação e as questões acerca do preço dos combustíveis como fatores que impactam negativamente o índice.

“Muito se fala sobre a questão da Petrobrás, que está segurando artificialmente o preço da gasolina, mas a gente sabe que essa segurada pode estar escondendo um desajuste que vai impactar os papéis da companhia a médio prazo”, comenta.

Para Ribeiro, a taxa de juros nos Estados Unidos é que deve ditar o rumo dos próximos pregões na bolsa brasileira.

“Sem dúvida nenhuma, se você tiver uma manutenção da taxa básica nas próximas avaliações dos Estados Unidos, você tende a não ter uma evolução no cenário brasileiro. E também tem a desvalorização do real nesse contexto, porque você começa a ter um interesse maior por papéis atrelados ao dólar”, afirma.

No entanto, o especialista avalia que, uma vez que o cenário de queda não é “agudo”, é possível que o ciclo de baixa seja rompido nos próximos dias.

“Não é um cenário como a gente teve na última queda consecutiva, que foi a crise russa […] No entanto, a tendência, por conta de todas essas instabilidades, é que a gente tenha um movimento ainda de declínio e de maior retração pelas variáveis que estão se mostrando”, conclui.

Já André Fernandes, afirma ser difícil estimar um cenário para as próximas semanas.

“Com o fim da temporada de balanços, as atenções agora se voltam para a política e aprovação do novo arcabouço fiscal. E esses fatores podem ditar os próximos rumos do Ibovespa”, avalia.

 

Fonte: CNN Brasil

Data: 16/08/2023