Juros americanos sobem e ameaçam inflação e retomada econômica do Brasil; entenda os efeitos
As taxas de juros de 10 anos dos Estados Unidos atingiram, nesta semana, um patamar de 4,32% ao ano. Trata-se do mesmo nível de 2007, pré-crise econômica que atingiu o país e boa parte do mundo no ano seguinte.
Esse número não era visto há 16 anos e fortalece a percepção de que a maior economia do mundo pode passar por um período de recessão econômica importante em 2024. Embora essa notícia pareça muito distante da realidade brasileira, com juros mais altos lá fora e essas projeções econômicas negativas, os impactos também podem ser sentidos no Brasil.
O primeiro e mais esperado desses impactos é o aumento da taxa de câmbio, que já está acontecendo: mesmo que o dólar esteja operando em queda no pregão desta quarta-feira, a moeda americana (que estava vivendo um período de baixa nos últimos meses) já avançou 3,35% em agosto, até aqui.
Mas a desvalorização do real frente ao dólar é só a ponta do iceberg. Esse é, na verdade, o fator que pode desencadear uma série de outros desafios econômicos para o Brasil, com destaque para:
- ???? uma nova alta mais forte da inflação;
- ⌛ juros demorando para cair ou até voltando a subir;
- ???? consumo mais fraco dos brasileiros;
- ???? empresas com dificuldade de atrair investimento estrangeiro;
- ???? economia, como um todo, crescendo menos.
Entenda mais detalhes abaixo.
Juros altos nos EUA significam migração de investidores
Com taxas maiores, os títulos públicos dos Estados Unidos passam a entregar um retorno maior para os investidores. Esses títulos — as Treasuries americanas — são considerados os investimentos mais seguros do mundo. Então, quando eles passam a render mais, é normal que haja uma saída dos investidores de outros países, sobretudo os emergentes, como o Brasil.
A situação se intensifica, ainda, pelo próprio cenário interno do país. O novo arcabouço fiscal só foi aprovado nesta terça-feira (22) e a percepção de especialistas é de que os gastos do governo continuam elevados, na contramão da arrecadação federal, que vem desacelerando.
Esse conjunto de fatores eleva a preocupação e afasta os investidores do Brasil, com a dúvida de como fica a trajetória da dívida pública e a credibilidade das iniciativas do governo para aumentar a arrecadação.
De volta aos Estados Unidos, o responsável por determinar o valor dos juros no país é o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e, assim como no Brasil, a regra básica da instituição é subir os juros quando a inflação está alta.
É esse o momento atual. O processo de combate à inflação nos EUA vem desde que a pandemia e a guerra entre Rússia e Ucrânia fizeram os preços avançar no país para os maiores patamares em mais de 40 anos.
Para controlar esse forte avanço nos preços, o Fed passou por um ciclo de elevação das suas taxas de juros, tornando os processos de financiamento e tomada de crédito mais caros a fim de reduzir os níveis de consumo da população — o que tende a diminuir a inflação.
Atualmente, os juros estão entre 5,25% e 5,50% ao ano, o maior patamar em 22 anos. Mas o Fed tem dado pistas de que ainda será necessário promover novas altas nos próximos meses, já que a inflação continua acima da meta, que é de 2% nos Estados Unidos.
O Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) chegou aos 3% na variação anual, mas voltou a subir em julho, para 3,2%. Ao mesmo tempo, o mercado de trabalho americano segue aquecido (o que coloca mais dinheiro na mão da população e aumenta a pressão de preços), reforçando a ideia de que a batalha contra a inflação elevada ainda não acabou.