Você Colunista - Coluna do dia 23/04/2025
NR 01: Ampliando o Olhar Sobre a Saúde Mental no Trabalho e os Fatores Além do Expediente
As Normas Regulamentadoras (NRs) surgiram em 1978 com o objetivo de garantir condições seguras e saudáveis aos trabalhadores. Por muito tempo, associamos segurança do trabalho a questões técnicas: uso de EPIs, treinamentos obrigatórios, controle de riscos físicos, biológicos, ergonômicos, químicos e de acidentes. Porém, a realidade das empresas vem mudando e com ela, a necessidade de ampliar nosso olhar com o foco no que realmente importa: as pessoas.
Um marco importante dessa evolução foi a transformação da CIPA em CIPA-A (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e Assédio), oficializada pela Portaria MTP nº 4.219, de 20 de dezembro de 2022. A mudança não foi apenas de nomenclatura, mas de propósito: o combate ao assédio moral e sexual passou a integrar as atribuições da comissão.
E as mudanças não pararam por aí. A nova redação da NR 01, com entrada em vigor prevista para 26 de maio de 2025, traz uma abordagem ainda mais ampla: o reconhecimento dos riscos psicossociais como parte essencial da gestão de saúde e segurança no trabalho. Isso inclui fatores como sobrecarga de trabalho, jornadas exaustivas, ausência de reconhecimento profissional e ambientes tóxicos, que agora devem ser contemplados no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) com planos de ação específicos para prevenção de transtornos como depressão, ansiedade e estresse ocupacional.
Diante disso, uma pergunta precisa ser feita: estamos realmente considerando o ser humano por trás do crachá?
A gestão da saúde mental vai muito além de evitar acidentes ou cumprir normas. Trata-se de enxergar o trabalhador de forma integrada, sistêmica, compreendendo que sua produtividade e bem-estar estão diretamente ligadas à qualidade das relações que ele estabelece, tanto no ambiente empresarial quanto fora dele.
Fatores como instabilidade financeira, problemas familiares, luto, doenças, separações e até situações de violência doméstica impactam diretamente a saúde emocional e consequentemente, o desempenho profissional. Não há crachá que isole a dor pessoal. Ignorar essas interações entre vida pessoal e ambiente de trabalho é ignorar a própria complexidade humana.
É nesse ponto que entra a importância da atuação de uma equipe multidisciplinar, como psicólogo que atua na escuta clínica, emocional e na prevenção de adoecimentos relacionados ao trabalho, o assistente social que amplia a compreensão do cuidado, alcançando toda a dimensão social do indivíduo, identificando suas vulnerabilidades e promovendo ações de bem-estar para além do crachá e toda a equipe do SESMT (engenheiro, médico, técnico e enfermeiro) essa integração permite ações mais eficazes e humanizadas.
Por isso, empresas comprometidas com a promoção da saúde mental precisam adotar práticas que vão além do mínimo necessário. Não se trata de invadir a vida pessoal do trabalhador, mas de criar uma cultura de apoio psicossocial real. Ações de educação emocional, saúde financeira e qualidade de vida, estendidas também aos familiares, são estratégias poderosas para criar ambientes mais saudáveis e empáticos.
Organizações que investem em pessoas colhem os frutos: clima organizacional mais leve, sentimento de pertencimento a empresa e consequentemente mais engajamento, redução do turnover, mais produtividade e uma marca mais respeitada no mercado. Mais do que cumprir a legislação, essa é uma estratégia de gestão consciente, com propósito e responsabilidade social.
A saúde mental no trabalho é um tema urgente. E para que ela seja de fato uma realidade, líderes e gestores precisam olhar para além do crachá e enxergar a pessoa como um todo, considerando suas particularidades e vulnerabilidades.

Artigo produzido por Ana Cláudia Dias Pinheiro
Graduada Serviço Social – UECE – Universidade Estadual do Ceará Graduanda em Psicologia Organizacional e do Trabalho -UECE Graduanda em Direitos Humanos e Responsabilidade Social – FaveniMBA em Projetos Sociais - Faveni