Trump lamenta não ter elevado ainda mais taxas contra China

BIARRITZ, França - A Casa Branca reforçou que o presidente americano Donald Trump está comprometido em seguir com adisputa  comercial entre os Estados Unidos e a China . O posicionamento foi anunciado após Trump ter declarado neste domingo, enquanto participa da cúpula do G7 , na França,  só "lamenta não ter aumentado mais as tarifas" sobre os produtos chineses.

— Foi perguntado ao presidente se ele 'queria mudar de opinião sobre a guerra comercial com a China', e sua resposta foi mal interpretada — declarou Stéphanie Grisham, porta-voz da Casa Branca, em Washington. — O presidente Trump respondeu afirmativamente, (mas) porque lamenta não ter aumentado ainda mais as taxas.

Mais cedo, na cidade francesa onde os líderes do G7 estão reunidos, Trump deu a entender que flexibilizaria sua posição nesta questão.

— Sempre penso duas vezes, sobre todos os temas — havia dito o governante americano.

Já o assessor econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, disse também neste domingo que não espera que a China retalie as tarifas adicionais sobre produtos chineses anunciadas por Trump na sexta-feira.

Consultado no programa "Face the Nation" da rede de televisão CBS se previa novas medidas de represália por parte da China, Kudlow disse:

— Não. Sua ação foi responder às deles. É por isso que duvido que tomem outra ação. Eu não ouvi sua resposta oficial ainda. Nós teremos que esperar e ver.

Na sexta-feira, Donald Trump ameaçou Pequim com medidas drásticas, tuitando que "as empresas americanas têm ordens para começar imediatamente a procurar uma alternativa à China".

Apesar de seus comentários mais sutis neste domingo, Trump defendeu sua estratégia em relação à China, a quem ele acusa de "roubo de propriedade intelectual da ordem de US$ 300 bilhões a US$ 500 bilhões de dólares por ano".

— Estamos perdendo um total de cerca de US$ 1 trilhão por ano. E, sob muitos aspectos, é uma emergência — disse ele.

Como vem dizendo há meses, o presidente americano reafirmou que a China acabará cedendo às demandas e mudando sua relação comercial com os Estados Unidos.

— Estamos em discussões, eles querem um acordo tanto quanto nós — assegurou.

'Sem tensão no G7', diz Trump

Na França, contudo, o presidente americano declarou neste domingo que sua guerra comercial com a China não causa tensão na cúpula do G7, apesar das preocupações expressas por vários outros líderes. Trump também afirmou que não pretende tomar outras medidas contra Pequim neste momento.

— Eu acho que eles respeitam a guerra comercial. Ela deveria acontecer — disse o presidente americano a repórteres antes de uma reunião com outros líderes do G7, incluindo os presidentes Emmanuel Macron (França), Angela Merkel (Alemanha)  e Shinzo Abe (Japão).

Questionado sobre possíveis críticas de seus colegas sobre o assunto, ele insistiu:

— Não, de forma alguma. Eu não ouvi isso.

Muitos líderes expressaram preocupações sobre o impacto negativo do conflito comercial entre EUA e China sobre a economia global e os mercados. Como o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que declarou claramente a Donald Trump que é "a favor de uma paz comercial" e que "não gosta de impostos alfandegários".

No sábado, o governo da China afirmou que se opõe firmemente à decisão de Washington de cobrar tarifas adicionais sobre US$ 550 bilhões em mercadorias chinesas e disse que os Estados Unidos sofrerão consequências caso não abandonem essas “medidas erradas”.

Os comentários foram feitos pelo Ministério do Comércio da China e vieram depois que Trump anunciou na sexta-feira que Washington imporia um imposto adicional de 5% sobre os produtos chineses. Horas antes, Pequim havia anunciado uma retaliação tarifária sobre cerca de US$ 75 bilhões em mercadorias americanas.

Na sexta-feira, os mercados financeiros registraram queda após o anúncio das taxas adicionais americanas, em resposta a um novo aumento das tarifas chinesas que entram em vigor no dia 1º de setembro.

O presidente americano admitiu ter algumas dúvidas sobre a conveniência de intensificar sua guerra comercial. Ele apontou que se absteria, no momento, de declarar um estado de emergência nacional que permitiria, segundo ele, ordenar que as empresas americanas deixem a China.

— Eu tenho o direito, se eu quiser. Posso declarar estado de emergência nacional. Mas não tenho essa intenção por enquanto — disse o presidente americano.

'Grande' acordo com Japão

Em contrapartida, o republicano garantiu que está "muito perto" de concluir um "grande" acordo comercial com o Japão, na esperança de que o texto possa ser formalmente elaborado por ocasião da Assembléia Geral da ONU, em setembro, disse o presidente dos EUA aos jornalistas durante sua reunião com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe.

O representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, disse que o acordo abrange agricultura, tarifas industriais e comércio digital. As tarifas do setor automotivo continuariam inalteradas.

— Chegamos a um consenso após intensas negociações — confirmou Abe, afirmando que ainda há "um pouco de trabalho" para formular o acordo.

— Washington e Tóquio trabalham nesse acordo há cinco meses — acrescentou o presidente dos EUA, antes de se reunir com Boris Johnson, quem, segundo o presidente americano, "é o homem certo" para concluir o Brexit.

Trump, inclusive, prevê  também um grande acordo comercial após a saída do Reino Unido da União Europeia.

Trump e Abe mantêm um bom relacionamento, mas o presidente dos EUA tem repetidamente criticado o "enorme desequilíbrio" comercial bilateral em benefício do Japão, e pediu relações "mais justas".

O presidente americano disse que o Japão concordou em comprar o excedente  de milho dos EUA que sobrecarregam os produtores americanos como resultado da luta comercial entre Washington e Pequim. Abe se referiu a uma possível aquisição de milho e disse que seria gerenciado pelo setor privado.

Lighthizer, por sua vez,  observou que o Japão importa US$ 14 bilhões em produtos agrícolas dos Estados Unidos e disse que o acordo abriria mercados para mais de US$ 7 bilhões desses produtos. O representante comercial americano mencionou carne bovina e suína, trigo, laticínios, vinho e etanol como beneficiários do acordo.

"Isso levará a reduções substanciais nas tarifas e barreiras não-tarifárias em geral", afirmou, sem dar detalhes sobre os aspectos do comércio industrial e eletrônico do entendimento.

No fim de junho, Tóquio e Washington concordaram que passariam a uma velocidade maior em suas discussões.  Os negociadores de ambos os países, Toshimitsu Motegi e Robert Lighthizer, concordaram, em particular, com a redução das tarifas japonesas sobre carnes de vitela e de porco procedentes dos EUA, de acordo com a televisão pública japonesa NHK e vários jornais nacionais.

Por sua vez, os Estados Unidos vão cancelar suas tarifas sobre um número significativo de produtos industriais do Japão, mas no que diz respeito aos fabricantes de automóveis japoneses, os impostos serão mantidos por enquanto e serão discutidos em negociações subseqüentes, segundo a NHK.

Para Tóquio, seria uma decepção relativa, já que o país asiático quer evitar, a todo custo, taxas sobre carros exportados para os Estados Unidos.

Disponivel em: https://oglobo.globo.com

Data: 26/08/2019