Mulheres empreendedoras têm taxa de juros maiores que dos homens
No cenário empresarial do Ceará, uma questão de disparidade de gênero ganha destaque: as empreendedoras enfrentam condições menos favoráveis no acesso ao crédito em comparação aos seus colegas masculinos. Segundo um estudo recente feito pelo Sebrae Nacional, com base em dados do Banco Central, as mulheres empresárias no estado pagam uma taxa de juros anual média de 42,5%, enquanto os homens pagam uma taxa ligeiramente menor, de 39,9%. Surpreendentemente, apesar das taxas de juros mais altas, as empreendedoras apresentam uma taxa de inadimplência menor, de 8,7%, em comparação aos 8,9% registrados para os homens.
Esse padrão se repete em nível nacional, onde a taxa de inadimplência nas empresas geridas por mulheres é de 7,6%, apenas marginalmente superior à dos homens, que é de 7,1%. Estes dados contradizem a noção frequentemente especulada de que emprestar para mulheres representaria um risco financeiro maior.
O estudo também revela uma realidade preocupante sobre a distribuição de recursos financeiros. Embora quase 40% das 23,1 milhões de operações de crédito realizadas no primeiro trimestre deste ano tenham sido lideradas por mulheres, elas receberam apenas 29,4% dos R$ 109 bilhões em empréstimos destinados a pequenos negócios. Isso indica que, mesmo quando as mulheres conseguem acesso ao crédito, o valor concedido tende a ser menor do que o disponibilizado para os homens.
Na avaliação da diretora Vogal do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF-CE), Luiza Alyne, antes de aprofundar as razões dos juros mais altos para as mulheres, precisamos dar alguns passos para trás e entender melhor as questões sociocomportamentais da nossa sociedade. “Vários estudos demonstram que as mulheres empreendem mais cedo do que os homens, e o fator preponderante é “poder” conciliar o negócio com a jornada dos cuidados com a casa e com a família. Por outro lado, os homens empreendem mais tarde, muitas vezes após a aposentadoria, e naturalmente possuem um histórico pessoal para comprovação. Uma análise de crédito leva em consideração o histórico financeiro da pessoa física e jurídica, e estas mulheres não formalizadas “não existem” para análise, não há dados, restando apenas uma média histórica do mercado somada à média interna da instituição concedente”, explicou.
Empréstimos
A situação é similar no Ceará, onde as empreendedoras tiveram acesso a apenas 33% dos R$ 2,17 bilhões em empréstimos concedidos no estado. Além disso, as mulheres foram responsáveis por apenas 39% das 457 mil operações de crédito realizadas no estado, enquanto os homens representaram 61% das operações. Essa diferença significativa reforça a existência de uma disparidade de gênero no que se refere à obtenção de crédito, o que pode limitar o desenvolvimento e crescimento de empresas lideradas por mulheres.
Essas estatísticas apontam para uma necessidade urgente de políticas mais inclusivas e equitativas no mercado de crédito, visando a reduzir as barreiras enfrentadas pelas empreendedoras. A implementação de medidas que promovam a igualdade de oportunidades no acesso a recursos financeiros é crucial para fortalecer o tecido empresarial do país, incentivando a diversidade e o dinamismo na economia.
“Há componentes estruturais que precisam ser reconhecidos, para o desenho e a implementação de ações, no âmbito público e privado, tais como os próprios papéis de gênero estabelecidos, que tendem a desvalorizar as capacidades empresariais das mulheres, resultando em um preconceito implícito por parte das instituições. Temos ainda questões de cunho socioculturais, incluindo responsabilidades domésticas desproporcionais e falta de apoio institucional, que resultam em menos tempo para dedicar-se ao negócio”, disse a diretora de Administração e Finanças do Sebrae Nacional, Margarete Coelho.
Fonte: O estado