Golpe usa nome de escritórios de advocacia para extorquir dinheiro por WhatsApp

A estreia do Brasil na última Copa do Mundo foi um episódio triste para a aposentada Solange Amoedo, 63. Por volta das 11h, ela recebeu uma ligação de uma mulher que se identificava como secretária do advogado Gabriel Chiavassa, que antes havia acionado seu filho.

O motivo era informar que ela havia obtido decisão judicial favorável em um processo e tinha dinheiro para receber. Mas precisava pagar R$ 5.000, no dia, para receber o valor total. "Eu disse que não tinha dinheiro, que só tinha cerca de R$ 1.800. Eles disseram que podia ser, e eu fiz o pagamento", conta Solange.

A insistência para fazer o depósito em mensagens de WhatsApp causaram estranhamento, mas, com as atenções voltadas para o jogo, a aposentada fez o pagamento. Ela só saberia mais tarde, com a ajuda da nora, que havia caído em um golpe.

Ocorre que Gabriel Chiavassa é um advogado real, que integra o escritório Chiavassa Advogadas Associadas. Segundo Rosana Chiavassa, sócia do escritório, Solange não foi a única que repassou dinheiro aos suspeitos. Desde abril do ano passado, quando começou o assédio aos clientes, oito pessoas perderam, juntas, cerca de R$ 150 mil.

"A pessoa entra em contato, recebe um documento falso, claro, mas com papel timbrado do TJ-SP [Tribunal de Justiça de São Paulo] e um número de processo que é verdadeiro", afirma.

A advogada diz que ficou impressionada com o golpe, direcionado a processos de indenização na área de saúde. Também notou a existência de um perfil de vítimas, geralmente mulheres e idosos.

Em nota, o TJ-SP afirma que mantém alertas sobre golpes em seu site e ressalta que não comunica ajuizamento de ações ou supostas liberações de créditos por telefone.

Ainda, afirma que o número da ação e os nomes das partes envolvidas no processo, assim como os dos advogados, são de livre acesso. "Outras informações das partes e peças dos autos estão na pasta digital e, para acessá-la, é preciso ser advogado, estar cadastrado e logado no sistema ou, se for parte, ter a senha do processo", diz o texto.

E os mesmos números, após um período, são usados para aplicar golpes com nomes de outros escritórios. Um deles, que enviou mensagens a Solange, chegou a mudar a foto e manteve o nome anterior.

Segundo Lucas Cavina, do escritório Sandoval Filho, o golpe que consiste em pagar uma taxa para receber dinheiro existe há muitos anos -o que muda é o acesso aos processos.

"Antes de 2013, as histórias de golpe eram menos frequentes, porque a pessoa precisava ir ao fórum olhar o processo, que é público e tem os dados das pessoas, como nome, CPF, profissão. Só não tem número de telefone", diz o advogado.

Ele afirma que as facilidades de consultar processos públicos, agora digitais, e comprar bases de dados com telefones facilitam o esquema. "São ferramentas legalizadas, como as usadas por empresas de cobrança, como as antigas listas telefônicas."


Fonte: UOL

Data: 13/02/2023