Standard & Poor’s melhora a avaliação do Brasil pela primeira vez desde 2019

Pela primeira vez em quatro anos, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s melhorou a perspectiva que ela tem do Brasil.

O trabalho das agências de classificação de risco é avaliar a qualidade do título de dívida emitido por uma empresa ou por um país. É um radar importante porque reflete a percepção da agência sobre a capacidade do país de honrar suas dívidas. E esse trabalho é seguido de perto por fundos de pensão e fundos de investimento no mundo inteiro.

Normalmente, as agências usam uma tabela de letras para dar essas chamadas notas de crédito. Quanto melhor for essa nota, mais seguros os países são considerados pelos investidores e mais baixos os juros das dívidas dos governos.

No caso da Standard & Poor’s, as letras vão de A a D - sendo o AAA de mais alta qualidade e a D, a pior, quando um país está próximo da inadimplência. O Brasil ocupa hoje um grau intermediário nessa classificação de risco.

Em um passado não tão distante, o Brasil já esteve no primeiro grupo. Foi em 2008, no segundo mandato do presidente Lula, quando o Brasil obteve o chamado grau de investimento - passou a ser considerado um destino seguro para os investidores.

Mas perdeu o selo em 2015, no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Em 2016, ainda no governo Dilma, sofreu mais um rebaixamento. E, em 2018, no governo de Michel Temer, caiu para o patamar atual: BB - (países que, segundo as agências, não mantém controle rígido das contas públicas).

Nesta quarta-feira (14), a agência Standard & Poor’s passou a perspectiva de nota de crédito do Brasil de estável para positiva - algo que não acontecia desde 2019, quando o Congresso aprovou a reforma da previdência.

Nos meses seguintes à reforma da previdência, ao contrário do que se esperava, a nota em si não melhorou. Continuou em BB - durante todo o governo Jair Bolsonaro.

Agora, a agência volta a sinalizar que pode elevar a nota do Brasil. Segundo a Standard & Poor's, o crescimento da economia e uma política fiscal clara podem fazer a dívida pública ficar abaixo do que se esperava, e ainda permitir uma atuação mais flexível do Banco Central.

O comunicado da Standard & Poor’s foi divulgado no fim da tarde e teve impacto no mercado financeiro, juntamente com a decisão do Banco Central americano de manter a taxa de juros por lá inalterada.

O dólar fechou em queda, vendido a R$ 4,80, e o principal índice da Bolsa de São Paulo fechou no maior nível desde outubro de 2022.

O ministro da Fazenda comemorou a elevação na perspectiva de nota. Fernando Haddad dividiu os méritos com Judiciário e com o Congresso, por causa de medidas tomadas nos últimos meses que, segundo o ministro, melhoraram o ambiente econômico.

“Eu acho que é um passo, um passo importante. Depois de quatro anos, não é, ter uma sinalização dessas. Mas eu gostaria de compartilhar com o Congresso e com o Judiciário, as iniciativas que estão sendo tomadas na direção correta de arrumar as contas do Brasil e permitir que a gente possa avançar com uma geração de emprego, desenvolvimento. Então isso não é possível a partir só do Executivo. A gente tem a confiança do presidente Lula, o apoio, mas sem a compreensão do presidente Arthur Lira, do presidente (Rodrigo) Pacheco, presidente da Câmara e do Senado, e também do STJ, do STF, que têm se sensibilizado com a agenda da Fazenda, da área econômica em geral, nós não íamos ter essa sinalização. Você vê que a menção à nova regra fiscal foi feita, a menção às perspectivas de aprovação da reforma tributária, às medidas de reoneração, de corte, de gasto tributário... Tudo isso foi mencionado na nota. E é importante que uma agência externa consiga observar esses avanços do Brasil. Tem muito trabalho pela frente, é só um começo. Mas eu penso que se nós mantivermos o ritmo de trabalho das duas casas e do Judiciário, eu quero crer que nós vamos conseguir atingir os objetivos. O Brasil precisa voltar a crescer. Não tem outra alternativa. Não há solução para esse país do tamanho que ele tem sem crescimento”, afirmou Haddad.

Haddad afirmou também que o país vai retomar o grau de investimento.

“O país que tem mais de R$ 300 bilhões de reservas cambiais e voltou acumular reservas cambiais, não deve um dólar no exterior, é credor internacional. Não ter grau de investimento? Tem inflação menor do que a da Europa e dos Estados Unidos. Como é que esse país não vai ter grau de investimento? Agora, é um processo. Natural que não venha um grau investimento, vem uma sinalização positiva. Depois, se aprovar a reforma tributária, vai vim a mudança de degrau. Nós vamos subir um degrau. Dali a pouco sobe o segundo degrau. E aí já tá no grau de investimento. Pode levar alguns anos? Pode levar alguns anos, mas ele é inevitável se nós trabalharmos juntos. Não tem razão para ser diferente”, afirmou o ministro da Fazenda.

Data: 15/06/2023