Selic deve voltar a subir com aumento do risco fiscal, dizem especialistas

No mesmo dia em que o mundo começou a falar sobre queda de juros nos Estados Unidos, o Brasil voltou a falar de aumento da taxa Selic. Com as incertezas no campo fiscal e a previsão de aumento dos gastos públicos, a curva de juros futuros já mostra os juros passando dos 15% em 2023.

Nesta quarta-feira (23), enquanto a ata do banco central americano apontou para uma desaceleração dos juros e possível queda das taxas em 2023, o presidente do banco central brasileiro, Roberto Campos Neto, sinalizou que a queda da taxa Selic, esperada para meados do ano que vem, pode não se concretizar. Ele utilizou algumas vezes a palavra “inflexão”, enfatizando que o momento é de mudanças na condução da política econômica.

Tanto Campos Neto, quanto economistas que foram diretores do Banco Central e ex-ministros, passaram a enfatizar que a política está apontando para um cenário de aumento de gastos, o que significa que a percepção de risco do país pode piorar, levando à saída de capital, apreciação do dólar e inflação. Nesse cenário, sem o lado fiscal ajudando a combater o aumento de preços, os juros podem ter que fazer o trabalho de combater a inflação sozinhos. Por isso, a alta da Selic voltou ao radar.

A perspectiva de aumento de gastos ocorre com as discussões sobre a PEC da Transição. Gabriel Barros, economista-chefe da Ryo Asset, concorda que os juros devem subir se a PEC de fato ficar no valor proposto pelo grupo de transição de Luiz Inácio Lula da Silva, sobretudo porque a economia já está aquecida.

“Se o valor ficar em R$ 150 a R$ 200 bilhões, o BC vai ter que subir juros porque a economia brasileira está numa fase do ciclo econômico em que já está rodando no seu potencial. O mercado de trabalho, por exemplo, está praticamente em pleno emprego para os nossos parâmetros. Quando a economia está aquecida assim é muito contraproducente uma expansão fiscal, o BC vai ter que reagir e subir juros”, afirma Barros.

O terceiro adiamento do texto da PEC da Transição mostra a complexidade de se chegar a um consenso sobre tamanho e prazos da proposta. O governo Lula ainda vai batalhar para apresentar um texto definitivo até o dia 2 de dezembro e votar a proposta ainda neste ano, mas a solução via Medida Provisória está ganhando força. Seria uma saída para pagar o Bolsa Família a partir de janeiro, já que a MP depende apenas do Executivo para ser editada e tem força de Lei assim que publicada.

O economista da Ryo Asset vê riscos na alternativa. “O crédito extraordinário tem dois requisitos: a despesa tem que ser urgente e imprevisível. O Bolsa Família em R$ 600 pode ser urgente, mas não é imprevisível. Ainda que o TCU e o Supremo deem entendimento favorável, fico com receio da flexibilização dos critérios. É uma situação preocupante e o tempo é curto”, diz.

Fonte: CNN BRASIL

Data: 24/11/2022