Copom: o que o BC ainda espera para baixar os juros do país

Ainda que todos soubessem o desfecho da reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, o mês começou com mais faísca no debate sobre o patamar da Selic.

Novamente, os membros do governo federal iniciaram uma investida contra a diretoria do Banco Central, responsável pela decisão. Ao longo da semana, a reportagem do g1 ouviu economistas que se colocam ao lado dos argumentos de cada um.

  • Quem concorda com o governo diz que a economia já acumula sinais de desaceleração suficientes para que o BC seja menos inflexível com os juros.
  • Quem discorda, vê indicadores importantes de inflação fora das expectativas — aqui e no exterior — o que deixa o BC desgostoso de baixar as taxas agora;
  • E há quem esteja cauteloso, mas acredita em uma suavização dos juros em breve.

Pelo lado do governo, é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que lidera a investida. Na segunda-feira (1º), ele foi ao palanque em evento para celebração do Dia do Trabalhador e associou o nível atual da Selic ao desemprego, afirmando que a taxa de juros é parcialmente “responsável” pela situação do país.

“A gente não poder viver mais em um país aonde a taxa de juros não controla a inflação, ela controla, na verdade, o desemprego nesse país porque ela é responsável por uma parte da situação que nós vivemos hoje”, disse.

No comunicado divulgado na noite desta quarta-feira (3), o Copom não apenas manteve a taxa inalterada como voltou a sinalizar que poderá “retomar o ciclo de ajuste”, caso necessário.

 

“O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária. O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, disse o texto.

Isso significa que o BC poderá voltar a aumentar a Selic em outro momento, se necessário. Porém, desta vez, o próprio Copom reconhece, diferentemente do comunicado anterior, que este é um “cenário menos provável”.

Dias antes, Campos Neto disse que reconhece as medidas realizadas pelo governo para melhora do ambiente econômico, mas que o BC ainda procura fundamentos técnicos para começar o ciclo de quedas de juros.

“Nenhum banqueiro central gosta de subir juros (...). Então, a gente obviamente quer achar as condições estruturais para que isso [queda de juros] aconteça”, afirmou Campos Neto, em evento no dia 21.

Que condições são essas?

 

No mesmo evento, um encontro com investidores em Londres, Campos Neto explicitou os três critérios que o BC leva em conta em suas decisões de política monetária.

 

  • Expectativas de inflação: o que se espera da inflação no futuro e o impacto dessa projeção na inflação atual;
  • Hiato de produto: diferença entre a atividade econômica e seu potencial de crescer;
  • Inflação corrente: o estado atual dos preços, considerando a influência das expectativas, do hiato de produto e de possíveis choques de preço em curso.

 

Pela análise do presidente do BC, a incerteza fiscal e a possibilidade de mudança da meta de inflação trouxeram ruídos suficientes para piorar as expectativas de inflação em prazos relativamente longos, até 2026.

Em outras palavras: o BC espera acertos práticos nas contas públicas do país e o fim da discussão sobre a meta de inflação, para ter mais clareza do trabalho de desinflacionar a economia.

Aí que se instaura o impasse: para o governo, o envio do arcabouço fiscal ao Congresso e as medidas anunciadas de ampliação de receitas deveriam ser suficientes para que o Copom sinalizasse o momento de cair os juros.

Já o BC quer ver, primeiro, os planos andarem. Isso inclui aprovação do arcabouço e de medidas de aumento de receitas no Congresso Nacional, por exemplo. Com isso em mãos, o BC espera uma melhora dos juros longos e da expectativa de inflação do país, e consequentemente mais espaço para baixar a Selic sem ter que voltar atrás.

“O mandato do Banco Central é entregar a inflação na meta. Se a inflação projetada não está na meta, não está na hora de cortar o juro”, diz Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica para América Latina do Goldman Sachs.

 

A análise de Ramos sobre a situação é alinhada aos argumentos do BC: para ele, apesar de entraves macroeconômicos, os números da atividade têm surpreendido positivamente e os estímulos fiscais à economia estão em patamar elevado.

Um exemplo é o resultado do IBC-Br de fevereiro, chamado também de “prévia do PIB”, que trouxe uma forte expansão de 3,32% no mês, após estagnação registrada em janeiro. O crescimento do indicador em fevereiro foi o maior desde junho de 2020, quando teve alta de 4,86%.

Ramos cita ainda o reforço ao Bolsa Família, o piso da enfermagem e o aumento real do salário mínimo como parte dos incentivos que aceleram a economia, em contraste com os juros em patamar mais alto. Para ele, o hiato de produto não está tão “aberto”, assim como o nível de ociosidade que tem registrado queda.

“Claro que 13,75% ao ano, com juro real próximo de 8%, está muito alto. Mas a inflação está alta em muitos outros países. Não dá para minimizar o custo econômico e social de uma inflação desancorada”, diz o economista.



Fonte: G1

Post atualizado em: 05/05/2023


Atualizado na data: 05/05/2023