Cartão de crédito paga dívidas essenciais e reduz poder de compra no Brasil

O aperto orçamentário no Brasil arrasta 77,9% das famílias ao endividamento e tem feito com que o cartão de crédito, historicamente considerado um vilão das finanças, seja utilizado para pagar dívidas essenciais. A constatação foi feita pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), que atestou, na última semana, o maior percentual de endividamento no Brasil desde 2011, quando o monitoramento começou a ser realizado. 

O levantamento mostra que as pendências com o cartão encabeçam a lista de débitos das famílias - o que não é propriamente uma novidade quando o assunto é finanças. Mas o fato é que a compra no crédito tem surgido como opção para reforçar o orçamento e arcar com custos básicos, como alimentação e moradia.

“Os efeitos perversos da pandemia, com o fechamento de negócios e o aumento do número de desempregados, e no pós-pandemia com o avanço da inflação, fez com que as famílias com rendas mais baixas precisassem recorrer ao crédito para manutenção do consumo de primeira necessidade”, atestou o presidente da CNC, José Roberto Tadros

Neste cenário, pode desonerar a fatia da população que convive com salários mais baixos. Na proposta, a equipe econômica promete uma correção da tabela do Imposto de Renda, que apresenta uma defasagem desde 2015. 

“A reforma tributária que nós queremos votar no primeiro semestre é no imposto sobre o consumo. Mas, no segundo semestre, queremos votar uma reforma tributária sobre a renda para desonerar as camadas mais pobres do imposto e para onerar quem não paga imposto. Vamos reequilibrar o sistema tributário brasileiro para melhorar a distribuição de renda no Brasil”, argumentou Haddad durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. 

Economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Gelton Pinto Coelho reforçou que a reforma surge como possibilidade, já que questões orçamentárias impediram o cumprimento da promessa do governo de Luiz Inácio da Silva (PT) de elevar o salário mínimo a R$ 1.320. “O que foi gasto pelo governo passado no último ano, gerou um rombo, uma desorganização nas contas públicas e não tem como o governo atual promover um aumento de salário sem ter um fluxo de caixa corrente para o pagamento desses valores que estão sendo comprometidos”, avaliou. 

Para o representante do Corecon, as mudanças nas regras tributárias devem seguir o que foi anunciado pelo Ministério da Fazenda, de priorizar a cobrança sobre grandes rendas e reduzindo o impacto sobre o consumo da população. “A tributação sobre o consumo leva à perda de capacidade das famílias em honrar com seus compromissos. É necessário que se faça um ajuste, tributando as pessoas que têm maior poder de contribuir e isentando quem tem essa necessidade”, complementou Gelton. 

Transferência de renda

Para Guilherme Almeida, economista-chefe da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio MG), o governo deve aliar desenvolvimento econômico às necessidades sociais do país. “Como se discute desenvolvimento econômico, sem discutir valorização da mão de obra? A produtividade do brasileiro é muito baixa frente a países desenvolvidos. Existe a necessidade de trazer para o debate temas como inovação, tecnologia, estímulo às atividades produtivas, mas sem negligenciar qualificação e capacitação da mão de obra para que dessa forma a gente consiga atingir um patamar de produtividade adequada para fazer com que o país cresça”, argumentou o economista.

Ele acredita que os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, devem ser temporários, com critérios de aptidão de famílias aptas a receber o benefício, mas com regras de ingresso no mercado de trabalho e nível de remuneração. Neste modelo, acredita Almeida, haverá condições  para que o cidadão possa abrir mão do repasse feito pelo governo. 

“O desenho das políticas públicas e das discussões tem que consolidar esses pilares em um mesmo debate. Justiça social, mas desenvolvimento produtivo, aumento de produtividade, desenvolvimento econômico, estímulo ao investimento produtivo. Enfim, são pautas importantes e dentro dessas pautas cabem as pautas estruturais que já se discutem há bastante tempo, como as reformas tributária e administrativa. Tudo isso traz eficiência à gestão pública e às atividades econômicas”, reforçou. 


Fonte: O Tempo

Data: 27/01/2023